Biodiversidade – Uma multiplicidade de conceitos?
Que não
existam dúvidas! A tentativa de reduzir a definição de Biodiversidade a um conceito estanque e mensurável com parâmetros
rigidamente definidos falhará sempre. Citando Norton (1994) referido por Araújo
(1998), “Não obstante a diversidade de propostas que visam
reduzir o conceito de biodiversidade a um espaço bidimensional, mensurável, de
abcissas e ordenadas, afigura- se
pouco provável que algum dia (gbif.org) alguma medida venha a merecer o consenso.”
Partamos
para o nosso raciocínio com as palavras de uma criança de 13 anos, que após
umas boas aulas de “Ciências Naturais” e uns bons minutos de leitura retorquiu:
“Então, Biodiversidade é simplesmente
toda a vida na terra! Aquela que vemos e aquela que não vemos, por estar
escondida ou ser muito pequena (microscópica). É todo o ser vivo que exista na
Atmosfera, na hidrosfera ou na geosfera. Acho que é o mesmo que a Biosfera.”
Na definição
anterior encontramos uma descrição do termo Biodiversdade
que, estando bastante rica, especialmente tendo em conta a faixa etária do
autor, peca por ser um pouco estanque. Senão vejamos: Para uma qualquer
empresa, o conceito de Biodiversidade
pode basear-se no material necessário para levar a cabo a sua produção, por ex.
madeira, interessando ai a qualidade das diferentes madeiras. Para um
ecologista, por ex., Biodiversidade
já representará um conceito muito mais amplo, possivelmente uma interação de
relações num ecossistema ou a multiplicidade de organismos que nele interagem.
Ou seja, citando Araújo (1998), “um fator importante na avaliação da
biodiversidade é o facto do termo ser entendido de forma diversa consoante o
grupo profissional ou social que o interpreta.”
O conceito
de Biodiversidade tem frequentemente “apenso” os conceitos de riqueza,
equitabilidade, diversidade e estabilidade (Araújo, 1998), sendo comum inferir
que quanto maior a Biodiversidade, maior a estabilidade de um ecossistema
(hipótese da diversidade-estabilidade). No entanto, esta relação não deve ser
interpretada como simples, uma vez que atualmente, mais do que nunca, a
diversidade biológica deve ser tratada como um recurso global, a ser indexado,
usado e, acima de tudo, preservado (Wilson, 1988).
Mas se para
organizar e indexar organismos temos a Sistemática, ciência que utilizando a
taxonomia e a filogenia, nos cria grupos de seres vivos organizados por
diversas características mais ou menos comuns (Taxa) e assim nos permite melhor
compreender as suas ligações e linhas evolutivas, por outro urge a necessidade
de atribuir um valor, ou pelo menos uma “prioridade” de preservação,
intervenção ou interesse. Quais os conceitos então a ter em conta nestas areas
e no que às várias vertentes da Biodiversidade diz respeito?
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Um fator
inegável será sem dúvida a maior ou menor diversidade de seres vivos
presente em determinado ecossistema. Locais como as florestas tropicais, que
cobrem apenas 7% da área do nosso planeta, mas abrigam ai mais de 50% das
espécies conhecidas e que ainda assim estão a ser destruidas tão rapidamente
que poderão nem existir no próximo século não podem ser negligenciados.
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Outro
ponto importante na quantificação e definição deste nossso conceito é o da fragilidade
de um ecossistema. Um local que possua grande variedade de seres vivos,
tendo portanto enorme valor biológico, e seja relativamente estável, ou outro
local que, não possuindo tal variedade, é de uma extrema fragilidade (Ex. Zonas
húmidas) devem ser acautelados.
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Mais um
conceito importante apenso à definição de Biodiversidade será o da quantidade
de biodiversidade perdida em determinado local/momento e a velocidade dessa
perca. É óbvio que determinado local que apresenta uma extinção numerosa de
seres vivos e/ou que esse mesmo desaparecimeto ocorre num curto espaço de tempo
terá de ser intervencionado ou analisado em detrimento de outro que, por agora,
se apresenta estável.
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Dependendo
integralmente do homem, o conceito de “Área Protegida” é também de
extrema importância, uma vez que quanto maior for, menor serão os hipotéticos
riscos que determinado bioma sofrerá pela mão humana.
Concluindo,
diferentes interpretações ou interpretações tendenciosas ou incompletas do/dos
conceito/s de Biodiversidade podem
levar facilmente a uma má interpretação do impacte de determinada ação num
ecossistema, ou permitir confundir o valor do todo, por uma das suas partes ou
vice-versa. A escala organizacional a ter em conta também se reveste de extrema
importância, uma vez que a Biodiversidade analisada à sua escala macro não é
comparável à análise de uma “simples” população confinada, ou a análise da
genetica de uma determinada espécie no seu habitat não pode ser confundida com
a análise dessa mesma genética quando introduzida num ambiente novo.
A “Convention on
Biological Diversity” define perda de Biodiversidade como “the long-term or permanent qualitative or quantitative reduction in
components of biodiversity and their potential to provide goods and services,
to be measured at global, regional and national levels”, implicando
portanto não apenas uma perda de espécies, mas também a importância da perda da
interação dessas espécies ou do seu valor para o ser humano.
Bibliografia base:
- Araújo, M., Avaliação
da Biodiversdade em Conservação, Centro de Ecologia Aplicada, Universidade
de Évora (1998), EFN, Lisboa;
- Millennium Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human
Well-being: Biodiversity Synthesis (2005). World Resources Institute, Washington, DC;
- Wilson, E., THE CURRENT STATE OF BIOLOGICAL DIVERSITY, 1º capítulo, Museum of
Comparative Zoology, Harvard University (1988), Cambridge, Massachusetts;
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