quarta-feira, 4 de abril de 2012


Biodiversidade – Uma multiplicidade de conceitos?


          Que não existam dúvidas! A tentativa de reduzir a definição de Biodiversidade a um conceito estanque e mensurável com parâmetros rigidamente definidos falhará sempre. Citando Norton (1994) referido por Araújo (1998), “Não obstante a diversidade de propostas que visam reduzir o conceito de biodiversidade a um espaço bidimensional, mensurável, de abcissas e ordenadas, afigura- se pouco provável que algum dia (gbif.org)                                         alguma medida venha a merecer o consenso.”


          Partamos para o nosso raciocínio com as palavras de uma criança de 13 anos, que após umas boas aulas de “Ciências Naturais” e uns bons minutos de leitura retorquiu: “Então, Biodiversidade é simplesmente toda a vida na terra! Aquela que vemos e aquela que não vemos, por estar escondida ou ser muito pequena (microscópica). É todo o ser vivo que exista na Atmosfera, na hidrosfera ou na geosfera. Acho que é o mesmo que a Biosfera.”


(agrobiodiversityplatform.org)

          Na definição anterior encontramos uma descrição do termo Biodiversdade que, estando bastante rica, especialmente tendo em conta a faixa etária do autor, peca por ser um pouco estanque. Senão vejamos: Para uma qualquer empresa, o conceito de Biodiversidade pode basear-se no material necessário para levar a cabo a sua produção, por ex. madeira, interessando ai a qualidade das diferentes madeiras. Para um ecologista, por ex., Biodiversidade já representará um conceito muito mais amplo, possivelmente uma interação de relações num ecossistema ou a multiplicidade de organismos que nele interagem. Ou seja, citando Araújo (1998), “um fator importante na avaliação da biodiversidade é o facto do termo ser entendido de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que o interpreta.”

          O conceito de Biodiversidade tem frequentemente “apenso” os conceitos de riqueza, equitabilidade, diversidade e estabilidade (Araújo, 1998), sendo comum inferir que quanto maior a Biodiversidade, maior a estabilidade de um ecossistema (hipótese da diversidade-estabilidade). No entanto, esta relação não deve ser interpretada como simples, uma vez que atualmente, mais do que nunca, a diversidade biológica deve ser tratada como um recurso global, a ser indexado, usado e, acima de tudo, preservado (Wilson, 1988).
 (bruxelles.cafebabel.com)

          Mas se para organizar e indexar organismos temos a Sistemática, ciência que utilizando a taxonomia e a filogenia, nos cria grupos de seres vivos organizados por diversas características mais ou menos comuns (Taxa) e assim nos permite melhor compreender as suas ligações e linhas evolutivas, por outro urge a necessidade de atribuir um valor, ou pelo menos uma “prioridade” de preservação, intervenção ou interesse. Quais os conceitos então a ter em conta nestas areas e no que às várias vertentes da Biodiversidade diz respeito?
-       Um fator inegável será sem dúvida a maior ou menor diversidade de seres vivos presente em determinado ecossistema. Locais como as florestas tropicais, que cobrem apenas 7% da área do nosso planeta, mas abrigam ai mais de 50% das espécies conhecidas e que ainda assim estão a ser destruidas tão rapidamente que poderão nem existir no próximo século não podem ser negligenciados.
-       Outro ponto importante na quantificação e definição deste nossso conceito é o da fragilidade de um ecossistema. Um local que possua grande variedade de seres vivos, tendo portanto enorme valor biológico, e seja relativamente estável, ou outro local que, não possuindo tal variedade, é de uma extrema fragilidade (Ex. Zonas húmidas) devem ser acautelados.
-       Mais um conceito importante apenso à definição de Biodiversidade será o da quantidade de biodiversidade perdida em determinado local/momento e a velocidade dessa perca. É óbvio que determinado local que apresenta uma extinção numerosa de seres vivos e/ou que esse mesmo desaparecimeto ocorre num curto espaço de tempo terá de ser intervencionado ou analisado em detrimento de outro que, por agora, se apresenta estável.
-       Dependendo integralmente do homem, o conceito de “Área Protegida” é também de extrema importância, uma vez que quanto maior for, menor serão os hipotéticos riscos que determinado bioma sofrerá pela mão humana.

          Concluindo, diferentes interpretações ou interpretações tendenciosas ou incompletas do/dos conceito/s de Biodiversidade podem levar facilmente a uma má interpretação do impacte de determinada ação num ecossistema, ou permitir confundir o valor do todo, por uma das suas partes ou vice-versa. A escala organizacional a ter em conta também se reveste de extrema importância, uma vez que a Biodiversidade analisada à sua escala macro não é comparável à análise de uma “simples” população confinada, ou a análise da genetica de uma determinada espécie no seu habitat não pode ser confundida com a análise dessa mesma genética quando introduzida num ambiente novo.
          A “Convention on Biological Diversity” define perda de Biodiversidade como “the long-term or permanent qualitative or quantitative reduction in components of biodiversity and their potential to provide goods and services, to be measured at global, regional and national levels”, implicando portanto não apenas uma perda de espécies, mas também a importância da perda da interação dessas espécies ou do seu valor para o ser humano.

Bibliografia base:

- Araújo, M., Avaliação da Biodiversdade em Conservação, Centro de Ecologia Aplicada, Universidade de Évora (1998), EFN, Lisboa;
-  Millennium Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis (2005).  World Resources Institute, Washington, DC;
- Wilson, E., THE CURRENT STATE OF BIOLOGICAL DIVERSITY, 1º capítulo, Museum of Comparative Zoology, Harvard University (1988), Cambridge, Massachusetts;

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