domingo, 22 de abril de 2012

DIA MUNDIAL DA TERRA
22 de Abril de 2012

Fonte: Vimeo.com

     Inicialmente criado em 1970, nos Estados Unidos da América, pelo ambientalista (e senador à data) Gaylord Nelson, convencionou-se o dia 22 de Abril como o DIA MUNDIAL DA TERRA, tendo por objetivo, pelo menos neste dia, consciencializar todos e cada um de nós para as problemáticas da contaminação e destruição da Biodiversidade, bem como alertar de um modo geral para a necessidade de preservar o Planeta Terra. Um pequeno resumo da origem deste dia pode ser encontrado em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_da_Terra .

     Lembremos que a "nossa" terra não é só "nossa", é de todos nós! Foi dos nossos bis e trisavós e será dos nossos filhos e netos. Temos a obrigação de a deixar ainda melhor tratada do que a encontrámos. A cada um cabe a sua parte. 


A todos um ótimo domingo.
JRF

sábado, 21 de abril de 2012


NEM TUDO ESTÁ PERDIDO!

      Todos sabemos, muito graças ao registo fóssil, que as atuais taxas de perda de Biodiversidade são por várias ordens de grandeza superiores às ocorridas na maior parte da história da vida na terra, associando de imediato tal acontecimento à ação antropogénica. Entre 12% a 52% das espécies de taxa superiores estão neste momento ameaçadas de extinção (IUCN Red List). 

 Número de espécies extintas anualizadas desde 1800. Fonte: Whole-Sistems.org

        A Floresta Amazónica e do sudeste asiático, as zonas húmidas mundiais, os grandes lagos da África oriental ou o Bangladesh. Todos zonas onde os ecossistemas estão a mudar a ritmos vertiginosos, em grande parte devido à ocupação das suas terras para agricultura intensiva.
       Sabemos também, no entanto, que alguns ecossistemas estão a voltar ao seu estado natural e que a taxa de conversão de alguns ecossistemas começou a abrandar e não apenas pela ausência de mais habitats para conversão, mas sim devido à consciencialização de muitos que se preocupam com o futuro de muitos mais. A camada de ozono estratosférica diminuiu o seu ritmo de redução, tendo mesmo evoluído desde à três anos a esta data e por um fenómeno ainda sem explicação definida, alguns glaciares na zona dos andes encontram-se a aumentar de volume. Nunca como agora comunidades, ONG´s, governos ou indústrias se empenharam tanto em ações concretas para mitigar a perda da Biodiversidade. 
Existe portanto esperança. Todos podemos atuar. Mas como? Vejamos apenas alguns exemplos do que poderá ser feito por nós, enquanto indivíduos, enquanto grupos organizados ou governos:
-     Regulamentar estritamente as medidas de quarentena nas águas de balastro ou nas migrações e transporte de indivíduos, bens e mercadoria;
-    Regulamentar a existência de ainda mais áreas protegidas, fazendo cumprir a legislação naquelas que já o são;
-     Implementar e apoiar projetos de recuperação de espécies ameaçadas e de restauração de ecossistemas em perigo;
-       Potenciar a conservação in situ e ex situ da diversidade genética;
-  Incorporar a gestão da Biodiversidade nas práticas agrícolas, pesqueiras e florestais;
-       Controlar de forma próxima a caça e pesca;
-   Reduzir ao máximo a poluição do solo, água e atmosfera, já que estes representam um driver primário e mesmo secundário de extrema importância na destruição de habitats;
-       Regular a ampliação das fronteiras agropecuárias;
-       Reduzir o aquecimento global;
-       Educar e ser educados;
-       ...
E o mundo nunca mais será o mesmo. Será muito melhor!


Há esperança.

AMEAÇAS ATUAIS E FUTURAS À BIODIVERSIDADE

De uma forma global podemos dividir as principais ameaças à Biodiversidade identificadas (driver´s) em dois grupos: Diretas e Indiretas. No lado das diretas destacam-se o inadequado uso do solo, as mudanças climáticas, a introdução de espécies invasoras a sobreexploração e a poluição. No lado das indiretas destacam-se as mudanças demográficas, socio-políticas, económicas, culturais, científicas e tecnológicas. As ameaças indiretas atuam frequentemente por influenciarem as diretas. Todos estas ameaças, obviamente, variam na sua importância consoante a região onde ocorrem, mas um dado é certo – a perda de Biodiversidade continua.

 Perda de Biodiversidade estimada dos últimos 40 anos. Fonte: WWF

        Embora todos os ecossistemas desde a sua criação experimentem mudanças, com maior ou menor impacto, por causas estritamente naturais, grande parte das atuais mudanças tem origem antropogénica, particularmente na demanda de recursos, não esquecendo que a população mundial duplicou nos últimos 40 anos, prevendo-se que chegue aos 9 600 000 000 indivíduos já antes de 2050 (Millennium Ecosystem Assessment - 2005). O processo de globalização veio ampliar algumas destas mudanças, embora tenha atenuado outras. Analisemos as principais ameaças:

        A condição cultural de um povo ou indivíduo influencia diretamente a sua perceção e conhecimento do mundo, implicando diretamente no que consideramos importante ou secundário, correto ou incorreto, ou mesmo no conhecimento científico ou tecnológico e no seu impacto (positivo ou negativo) no meio.
       O aumento da população como um todo ou em determinado local está normalmente associado ao processo de urbanização, com melhor ou pior ordenamento, situação que tem levado sempre a um aumento do consumo de recursos (alimento, energia...) nesse local específico, pressionando o ecossistema.
      Mudanças económicas ou culturais de um povo podem representar um desequilíbrio para o ecossistema pelas mais diversas razões, recordemos por exemplo que o aumento do poder de compra tem estado relacionado com o aumento do consumo de carne, fenómeno que conhece um aumento exponencial em países como China ou Brasil (Agricultural and agri-food Canada, 2010), alimento este reconhecido pelo extremo stress que coloca no ambiente onde é produzido.

 Produção de carne por pessoa nos últimos 50 anos. fonte: FAO

         Já no campo sócio-político, é importante para os cidadãos compreenderem o poder de quem dita as leis e baterem-se por uma democracia interventiva e participativa, só assim podendo defender ecossistemas contra abusos da classe dirigente, que por vezes coloca à frente de interesses do povo, interesses privados ou de uma classe dirigente desinformada ou com uma perspetiva de futuro limitada. Vários dados, no entanto, nos mostram que isto está a mudar (Home, 2009).
      Ao nível científico e tecnológico ocorrem as maiores mudanças numa base quase diária. Todos os dias o conhecimento avança a um ritmo alucinante na sociedade da informação, mas, mesmo não o conseguindo acompanhar na totalidade, cabe à educação permitir um olhar critico da sociedade a estas mudanças, impedindo aquilo que manifestamente causará um desequilíbrio presente ou futuro, incompatível com a manutenção da Biodiversidade.
       
      Já como driver direto mais importante destaca-se a transformação de habitats para agricultura. Atualmente, as áreas cultivadas, que apresentam por isso mais de 30% da sua área ocupada por campos de cultivo, produção de gado, aquacultura ou outros, cobrem mais de 25% da superfície terrestre. Grande parte desta ocupação é realizada com monoculturas, que, tal como o seu nome indica, reduzem a biodiversidade na razão inversa do lucro gerado e aos adubos ou pesticidas utilizados, com o resultante stress hídrico, salino ou químico para o solo que dai advêm. Os ecossistemas marinhos representam aqui um caso grave, não só pela sua grande degradação, mas acima de tudo, pela taxa hiper-rápida a que a mesma ocorre, tendo estes o óbice de as suas transformações serem menos visíveis e documentadas até à pouco tempo atrás. O arrasto, como exemplo, reduz drasticamente a diversidade de animais marinhos bentónicos e, ao capturar indiscriminadamente espécies, altera de forma definitiva teias alimentares complexas, obrigando ao consumo de seres vivos que ocupam níveis tróficos cada vez mais baixos. Só no período “pós pesca industrial” pensa-se que a biomassa de pescado já terá reduzido mais de 90% (Millennium Ecosystem Assessment - 2005). 

 Estrutura de uma população oceânica "típica" de peixe, com a linha laranja a marcar 50% do número de indivíduos que atinge a maturidade. Sem influência humana (sup. esq.), com 20% de pesca (sup. dto.), com 40% de pesca (inf. esq.) e com 60% da população pescada (inf. dto.) Fonte: reefresillience.org

       A dispersão de espécies invasoras verificou-se nas últimas décadas como nunca até ao momento, muito devido aos fenómenos da globalização, viagens e turismo. Medidas regulatórias desadequadas tem aqui alguma culpa. Factos como a alteração climática permitem que vetores de doenças como o Dengue ou a cólera aumentem em regiões onde nunca existiram, ou mesmo que a alteração da temperatura (frequentemente o seu aumento)  influencie a mortalidade dos seres vivos mais sensíveis e o desaparecimento de muito alimento em determinados Biomas.
       As alterações climáticas, intimamente ligadas a driver´s indiretos como a indústria ou os transportes, são de extrema importância na alteração da Biodiversidade. Fatores como a diminuição da água disponível, inundações e outros acontecimentos catastróficos, a redução da hidroenergia ou a fragmentação de habitats, com a direta interrupção de migrações, não podem ser negligenciados.
       A poluição como forma de degradação de um ecossistema assume várias vertentes, tomemos como o exemplo da carga de nutrientes descarregada nos lençóis freáticos, rios e oceanos deste planeta. Só desde 1950 a introdução de azoto, fósforo, enxofre e outros nutrientes com origem antropogénica foram considerados como um dos principais driver´s para a mudança de muitos dos ecossistemas aquáticos dulçaquicolas e costeiros no nosso planeta (Millennium Ecossystem Assessment - 2005). Estas descargas causam eutrofização intensiva, com a resultante diminuição do teor de O2 na água e potencial ingestão elevada de nitratos e outros poluentes pelos seres vivos que nela habitam, de onde derivará uma bioampliação (aumento na cadeia alimentar) e bioacumulação (aumento no organismo) indesejável para todos. As descargas pontuais e a poluição mineira são também um problema a ter em conta.
       A sobreexploração dos recursos biológicos (gráfico anterior) é hoje um dos fatores de diminuição da biodiversidade mais bem conhecidos pelo ser humano, não se ficando apenas pela “conhecida” diminuição dos recursos piscatórios, mas afetanto literalmente todos os ecossistemas, de forma transversal, embora com diferentes impactos, uma vez que as ligações entre estes são intrincadas. A “Homogenização Biótica” daqui derivada é um acontecimento indesejável, uma vez que dada a dimunuição de espécies, o ecossistema passará a ser dominado por um número reduzido de seres vivos mais bem adaptados, desequilibrando ainda mais o meio.

Os problemas, como vemos, são muitos, mas existirão soluções ou este é um caminho sem retorno?

De entre a bibliografia base destaca-se:

- Millennium Ecosystem Assessment (2005) "Causes of Biodiversity change", pp. 8-10 e  "What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends", pp. 42-59
- Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues”. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C.
- IBGE. (2004) "Indicadores de desenvolvimento sustentável", Brasil. On line em geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturai/indicadores_desenvolvimento_sustentavel/biodiversidade.pdf

sexta-feira, 20 de abril de 2012


DELICADA BIODIVERSIDADE

Embora a vida caracterize o nosso planeta, segundo Myers (1996) sabemos mais sobre o número de átomos que compõem o universo do que sobre as intrincadas relações que se estabelecem entre seres vivos. 20% das espécies de plantas e ainda mais animais estão confinados a apenas 0,5% do planeta, em áreas muitas vezes tropicais ou do tipo “Mediterrânico”, sendo frequentemente ricas em espécies endémicas, mas de extrema sensibilidade, o que as torna num “Hotspot” biológico. Este autor afirma ainda que os lagos tropicais possuem cerca de 40% das espécies de peixes identificadas até hoje (os lagos Malawi, Tanganyika e Victória pensa-se possuirem 11% dessas espécies, apenas em 0,08% da área terrestre) e cerca de 20% dos vertebrados, representando no entanto menos de 0,01% da água do planeta e desaparecendo ainda mais rapidamente do que as florestas! Estes Biomas sensíveis, por estarem relativamente isolados e, também eles, suportarem um elevado endemismo, são muitas vezes considerados “Ilhas Ecológicas”. E, em alguns destes locais, tais como os lagos referidos anteriormente, cientistas reclamam uma perda de cerca de 67% da biodiversidade graças à introdução de espécies invasoras, podendo este número chegar aos 90% em breve.
Lago Tanganyika. Fonte: tudolevapericia.blgsp.com

Ciclídeo originário do Lago Malawi.  Fonte: shutterstock.com
As Zonas Húmidas tropicais (e em muitos outros locais), constituem meios de grande sensibilidade física e química e riqueza biológica, pensando-se que só nas últimas décadas e maioritariamente por causas antropogénicas tenham perdido 50% da sua área a nível mundial.
Embora vários biomas terrestres possuam fraca “Resiliência Ecológica”, ou pelo menos parte das espécies que neles habitam, não nos devemos esquecer que já nos últimos 20 000 ou 30 000 anos foi perdida muita biodiversidade, não só pelas mudanças climáticas mas também pela caça humana, no entanto, nunca foi possível atribuir de forma tão segura esta perda às causas antropogénicas como nas últimas décadas.
Embora em alguns locais a taxa de “Diversificação Evolucionaria”, que nos permitirá “devolver” alguma da biodiversidade perdida a determinado Bioma, seja relativamente rápida, falamos sempre em “milhões de anos” neste capítulo. Não esqueçamos, por exemplo, que no ultimo período Permiano (299 a 251 milhões de anos –Ma- atrás) onde se perdeu talvez metade das famílias de vertebrados marinhos, foram necessários 20 Ma para recuperar cerca de metade (Myers, 1996). Como disseram Soule e Wilcox (1980), “Death is one thing, put an end to birth is something completely different”.
Gráfico representativo das extinções nos últimos 600Ma. Fonte: ndsu.edu
A Biodiversidade está em crise, mas quais as suas causa concretas?

De entre a Bibliografia consultada destaca-se:
Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues” pp. 125-138. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

 
Biodiversidade – Que Valor?


     Tal como referido no post anterior, o conceito de Biodiversidade não se esgota numa definição única, necessitando isso sim de uma abordagem holística e ponderada para lhe atribuir uma (ou mais…) definições e valor.
 davidsuzuki.org

      Atribuir um valor à biodiversidade parece inicialmente um tanto ou quanto petulante, mas apenas se nos esquecermos que muitas das ações humanas são frequentemente irreversíveis no que se refere à alteração da Biodiversidade. Mesmo quando não são irreversíveis, possuem por vezes tal extensão que invalidam a recuperação ou utilização do recurso de forma equilibrada pelo homem por muitos e longos anos, aproximando-se quase do conceito de “recurso não renovável”. O ser humano necessita de estar alerta para a forma como a Biodiversdade contribui para lhe fornecer alimento, cultura, saúde ou mesmo liberdade de escolha. Para a forma como a humanização dos ecossistemas que ocorre pelo menos nos últimos 200 anos tem vindo muitas vezes a piorar o nosso bem estar geral e a fazer sofrer quem por vezes menos se pode defender.
cbd.int

      Atribuir um valor à Biodiversidade de determinado local é no entanto um exercício delicado, não só pelas condicionantes de espaço e tempo de estudo desse local, mas também pela relativa ausência de dados rigorosos ao nível da taxonomia ou genética de determinados ecossistemas. Do Pré-Câmbrico ao atual Cenozóico, passando pela origem das plantas com flor, a maioria dos invertebrados e os primeiros vertebrados no Paleozóico e pela “idade do répteis”, no Mesozóico, muito aumentou o nosso conhecimento da Biodiversidade do planeta em que vivemos, no entanto, conforme referido por Mooney et al (2005), as mudanças graduais ou abruptas em determinado ecossistema e a multiplicidade de relações que estes encerram em si e entre si dificulta muito a tarefa de “avaliar”.

      O ou “os” ecossistemas de um pais, é sabido, representam uma enorme mais valia para o capital desse mesmo pais (Mooney et al, 2005), no entanto, quantos de nós conhecemos métricas económicas concretas que indiquem esse valor? Todos sabemos, por simples senso comum, que a Biodiversidade tem um importante valor intrínseco, alem de representar inúmeras hipóteses por explorar nas mais diversas áreas do conhecimento, no entanto o benefício de alguns indivíduos continua a ter um custo elevado para a sociedade no seu todo. Impõe-se uma abordagem com precaução a este nível, pois o custo de uma mudança irreversível pode ser demasiado elevado para suportar.
gifttonature.org

Atribuir um valor e valorizar a Biodiversidade implica que sejam tomadas decisões fundamentadas em estudos concretos e análises mais detalhadas de riscos e benefícios. A variabilidade genética, ecológica e funcional de determinadas espécies, o seu/os níveis tróficos em determinada teia alimentar, a abundância de determinado tipo de indivíduos num ecossistema, a sua variação no tempo e espaço, ou a sua distribuição global são fatores a ter em conta para avaliar uma espécie, população, comunidade ou ecossistema. Um valor ainda mais correto poderá, hipoteticamente, ser obtido se adicionarmos a capacidade de adaptabilidade genética de uma população (que nos dará a capacidade de resiliência a uma mudança ambiental, por ex.), as interações existentes entre espécies ou a quantidade e qualidade do serviço que determinado ecossistema presta ao ser humano, tendo em conta a sua localização e distribuição.

Concluindo, tal como Bryant (2005) refere na sua obra, inúmeros argumentos poderão ser postos em cima da mesa para consubstanciar a importância da conservação da Biodiversidade e a atribuição de um valor à mesma. Veja-se por exemplo a capacidade de fornecimento de alimento ou produtos naturais ao homem, a manutenção da variabilidade genética (e com isso capacidade de adaptação) ou a riqueza cultural de determinada área. Ou mesmo os sinais de alarme, opções futuras e modelos científicos de estudo que determinadas zonas poderão fornecer. Poderíamos encontrar uma métrica atribuindo um valor de 1 a 10 a determinado parâmetro, fazendo a média simples de todos os parâmetros contabilizados em determinada situação e atribuindo-lhe, por ex, um valor de urgência de preservação ou intervenção, seria no entanto redutor.

Bibliografia base:

-        Christie et al, Valuing the diversity of biodiversity, Socio Economic Research Services (2005), Aberystwyth, SY23 3AH UK;
-        Millennium Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis (2005).  World Resources Institute, Washington, DC;

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Biodiversidade – Uma multiplicidade de conceitos?


          Que não existam dúvidas! A tentativa de reduzir a definição de Biodiversidade a um conceito estanque e mensurável com parâmetros rigidamente definidos falhará sempre. Citando Norton (1994) referido por Araújo (1998), “Não obstante a diversidade de propostas que visam reduzir o conceito de biodiversidade a um espaço bidimensional, mensurável, de abcissas e ordenadas, afigura- se pouco provável que algum dia (gbif.org)                                         alguma medida venha a merecer o consenso.”


          Partamos para o nosso raciocínio com as palavras de uma criança de 13 anos, que após umas boas aulas de “Ciências Naturais” e uns bons minutos de leitura retorquiu: “Então, Biodiversidade é simplesmente toda a vida na terra! Aquela que vemos e aquela que não vemos, por estar escondida ou ser muito pequena (microscópica). É todo o ser vivo que exista na Atmosfera, na hidrosfera ou na geosfera. Acho que é o mesmo que a Biosfera.”


(agrobiodiversityplatform.org)

          Na definição anterior encontramos uma descrição do termo Biodiversdade que, estando bastante rica, especialmente tendo em conta a faixa etária do autor, peca por ser um pouco estanque. Senão vejamos: Para uma qualquer empresa, o conceito de Biodiversidade pode basear-se no material necessário para levar a cabo a sua produção, por ex. madeira, interessando ai a qualidade das diferentes madeiras. Para um ecologista, por ex., Biodiversidade já representará um conceito muito mais amplo, possivelmente uma interação de relações num ecossistema ou a multiplicidade de organismos que nele interagem. Ou seja, citando Araújo (1998), “um fator importante na avaliação da biodiversidade é o facto do termo ser entendido de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que o interpreta.”

          O conceito de Biodiversidade tem frequentemente “apenso” os conceitos de riqueza, equitabilidade, diversidade e estabilidade (Araújo, 1998), sendo comum inferir que quanto maior a Biodiversidade, maior a estabilidade de um ecossistema (hipótese da diversidade-estabilidade). No entanto, esta relação não deve ser interpretada como simples, uma vez que atualmente, mais do que nunca, a diversidade biológica deve ser tratada como um recurso global, a ser indexado, usado e, acima de tudo, preservado (Wilson, 1988).
 (bruxelles.cafebabel.com)

          Mas se para organizar e indexar organismos temos a Sistemática, ciência que utilizando a taxonomia e a filogenia, nos cria grupos de seres vivos organizados por diversas características mais ou menos comuns (Taxa) e assim nos permite melhor compreender as suas ligações e linhas evolutivas, por outro urge a necessidade de atribuir um valor, ou pelo menos uma “prioridade” de preservação, intervenção ou interesse. Quais os conceitos então a ter em conta nestas areas e no que às várias vertentes da Biodiversidade diz respeito?
-       Um fator inegável será sem dúvida a maior ou menor diversidade de seres vivos presente em determinado ecossistema. Locais como as florestas tropicais, que cobrem apenas 7% da área do nosso planeta, mas abrigam ai mais de 50% das espécies conhecidas e que ainda assim estão a ser destruidas tão rapidamente que poderão nem existir no próximo século não podem ser negligenciados.
-       Outro ponto importante na quantificação e definição deste nossso conceito é o da fragilidade de um ecossistema. Um local que possua grande variedade de seres vivos, tendo portanto enorme valor biológico, e seja relativamente estável, ou outro local que, não possuindo tal variedade, é de uma extrema fragilidade (Ex. Zonas húmidas) devem ser acautelados.
-       Mais um conceito importante apenso à definição de Biodiversidade será o da quantidade de biodiversidade perdida em determinado local/momento e a velocidade dessa perca. É óbvio que determinado local que apresenta uma extinção numerosa de seres vivos e/ou que esse mesmo desaparecimeto ocorre num curto espaço de tempo terá de ser intervencionado ou analisado em detrimento de outro que, por agora, se apresenta estável.
-       Dependendo integralmente do homem, o conceito de “Área Protegida” é também de extrema importância, uma vez que quanto maior for, menor serão os hipotéticos riscos que determinado bioma sofrerá pela mão humana.

          Concluindo, diferentes interpretações ou interpretações tendenciosas ou incompletas do/dos conceito/s de Biodiversidade podem levar facilmente a uma má interpretação do impacte de determinada ação num ecossistema, ou permitir confundir o valor do todo, por uma das suas partes ou vice-versa. A escala organizacional a ter em conta também se reveste de extrema importância, uma vez que a Biodiversidade analisada à sua escala macro não é comparável à análise de uma “simples” população confinada, ou a análise da genetica de uma determinada espécie no seu habitat não pode ser confundida com a análise dessa mesma genética quando introduzida num ambiente novo.
          A “Convention on Biological Diversity” define perda de Biodiversidade como “the long-term or permanent qualitative or quantitative reduction in components of biodiversity and their potential to provide goods and services, to be measured at global, regional and national levels”, implicando portanto não apenas uma perda de espécies, mas também a importância da perda da interação dessas espécies ou do seu valor para o ser humano.

Bibliografia base:

- Araújo, M., Avaliação da Biodiversdade em Conservação, Centro de Ecologia Aplicada, Universidade de Évora (1998), EFN, Lisboa;
-  Millennium Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis (2005).  World Resources Institute, Washington, DC;
- Wilson, E., THE CURRENT STATE OF BIOLOGICAL DIVERSITY, 1º capítulo, Museum of Comparative Zoology, Harvard University (1988), Cambridge, Massachusetts;