sábado, 21 de abril de 2012


AMEAÇAS ATUAIS E FUTURAS À BIODIVERSIDADE

De uma forma global podemos dividir as principais ameaças à Biodiversidade identificadas (driver´s) em dois grupos: Diretas e Indiretas. No lado das diretas destacam-se o inadequado uso do solo, as mudanças climáticas, a introdução de espécies invasoras a sobreexploração e a poluição. No lado das indiretas destacam-se as mudanças demográficas, socio-políticas, económicas, culturais, científicas e tecnológicas. As ameaças indiretas atuam frequentemente por influenciarem as diretas. Todos estas ameaças, obviamente, variam na sua importância consoante a região onde ocorrem, mas um dado é certo – a perda de Biodiversidade continua.

 Perda de Biodiversidade estimada dos últimos 40 anos. Fonte: WWF

        Embora todos os ecossistemas desde a sua criação experimentem mudanças, com maior ou menor impacto, por causas estritamente naturais, grande parte das atuais mudanças tem origem antropogénica, particularmente na demanda de recursos, não esquecendo que a população mundial duplicou nos últimos 40 anos, prevendo-se que chegue aos 9 600 000 000 indivíduos já antes de 2050 (Millennium Ecosystem Assessment - 2005). O processo de globalização veio ampliar algumas destas mudanças, embora tenha atenuado outras. Analisemos as principais ameaças:

        A condição cultural de um povo ou indivíduo influencia diretamente a sua perceção e conhecimento do mundo, implicando diretamente no que consideramos importante ou secundário, correto ou incorreto, ou mesmo no conhecimento científico ou tecnológico e no seu impacto (positivo ou negativo) no meio.
       O aumento da população como um todo ou em determinado local está normalmente associado ao processo de urbanização, com melhor ou pior ordenamento, situação que tem levado sempre a um aumento do consumo de recursos (alimento, energia...) nesse local específico, pressionando o ecossistema.
      Mudanças económicas ou culturais de um povo podem representar um desequilíbrio para o ecossistema pelas mais diversas razões, recordemos por exemplo que o aumento do poder de compra tem estado relacionado com o aumento do consumo de carne, fenómeno que conhece um aumento exponencial em países como China ou Brasil (Agricultural and agri-food Canada, 2010), alimento este reconhecido pelo extremo stress que coloca no ambiente onde é produzido.

 Produção de carne por pessoa nos últimos 50 anos. fonte: FAO

         Já no campo sócio-político, é importante para os cidadãos compreenderem o poder de quem dita as leis e baterem-se por uma democracia interventiva e participativa, só assim podendo defender ecossistemas contra abusos da classe dirigente, que por vezes coloca à frente de interesses do povo, interesses privados ou de uma classe dirigente desinformada ou com uma perspetiva de futuro limitada. Vários dados, no entanto, nos mostram que isto está a mudar (Home, 2009).
      Ao nível científico e tecnológico ocorrem as maiores mudanças numa base quase diária. Todos os dias o conhecimento avança a um ritmo alucinante na sociedade da informação, mas, mesmo não o conseguindo acompanhar na totalidade, cabe à educação permitir um olhar critico da sociedade a estas mudanças, impedindo aquilo que manifestamente causará um desequilíbrio presente ou futuro, incompatível com a manutenção da Biodiversidade.
       
      Já como driver direto mais importante destaca-se a transformação de habitats para agricultura. Atualmente, as áreas cultivadas, que apresentam por isso mais de 30% da sua área ocupada por campos de cultivo, produção de gado, aquacultura ou outros, cobrem mais de 25% da superfície terrestre. Grande parte desta ocupação é realizada com monoculturas, que, tal como o seu nome indica, reduzem a biodiversidade na razão inversa do lucro gerado e aos adubos ou pesticidas utilizados, com o resultante stress hídrico, salino ou químico para o solo que dai advêm. Os ecossistemas marinhos representam aqui um caso grave, não só pela sua grande degradação, mas acima de tudo, pela taxa hiper-rápida a que a mesma ocorre, tendo estes o óbice de as suas transformações serem menos visíveis e documentadas até à pouco tempo atrás. O arrasto, como exemplo, reduz drasticamente a diversidade de animais marinhos bentónicos e, ao capturar indiscriminadamente espécies, altera de forma definitiva teias alimentares complexas, obrigando ao consumo de seres vivos que ocupam níveis tróficos cada vez mais baixos. Só no período “pós pesca industrial” pensa-se que a biomassa de pescado já terá reduzido mais de 90% (Millennium Ecosystem Assessment - 2005). 

 Estrutura de uma população oceânica "típica" de peixe, com a linha laranja a marcar 50% do número de indivíduos que atinge a maturidade. Sem influência humana (sup. esq.), com 20% de pesca (sup. dto.), com 40% de pesca (inf. esq.) e com 60% da população pescada (inf. dto.) Fonte: reefresillience.org

       A dispersão de espécies invasoras verificou-se nas últimas décadas como nunca até ao momento, muito devido aos fenómenos da globalização, viagens e turismo. Medidas regulatórias desadequadas tem aqui alguma culpa. Factos como a alteração climática permitem que vetores de doenças como o Dengue ou a cólera aumentem em regiões onde nunca existiram, ou mesmo que a alteração da temperatura (frequentemente o seu aumento)  influencie a mortalidade dos seres vivos mais sensíveis e o desaparecimento de muito alimento em determinados Biomas.
       As alterações climáticas, intimamente ligadas a driver´s indiretos como a indústria ou os transportes, são de extrema importância na alteração da Biodiversidade. Fatores como a diminuição da água disponível, inundações e outros acontecimentos catastróficos, a redução da hidroenergia ou a fragmentação de habitats, com a direta interrupção de migrações, não podem ser negligenciados.
       A poluição como forma de degradação de um ecossistema assume várias vertentes, tomemos como o exemplo da carga de nutrientes descarregada nos lençóis freáticos, rios e oceanos deste planeta. Só desde 1950 a introdução de azoto, fósforo, enxofre e outros nutrientes com origem antropogénica foram considerados como um dos principais driver´s para a mudança de muitos dos ecossistemas aquáticos dulçaquicolas e costeiros no nosso planeta (Millennium Ecossystem Assessment - 2005). Estas descargas causam eutrofização intensiva, com a resultante diminuição do teor de O2 na água e potencial ingestão elevada de nitratos e outros poluentes pelos seres vivos que nela habitam, de onde derivará uma bioampliação (aumento na cadeia alimentar) e bioacumulação (aumento no organismo) indesejável para todos. As descargas pontuais e a poluição mineira são também um problema a ter em conta.
       A sobreexploração dos recursos biológicos (gráfico anterior) é hoje um dos fatores de diminuição da biodiversidade mais bem conhecidos pelo ser humano, não se ficando apenas pela “conhecida” diminuição dos recursos piscatórios, mas afetanto literalmente todos os ecossistemas, de forma transversal, embora com diferentes impactos, uma vez que as ligações entre estes são intrincadas. A “Homogenização Biótica” daqui derivada é um acontecimento indesejável, uma vez que dada a dimunuição de espécies, o ecossistema passará a ser dominado por um número reduzido de seres vivos mais bem adaptados, desequilibrando ainda mais o meio.

Os problemas, como vemos, são muitos, mas existirão soluções ou este é um caminho sem retorno?

De entre a bibliografia base destaca-se:

- Millennium Ecosystem Assessment (2005) "Causes of Biodiversity change", pp. 8-10 e  "What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends", pp. 42-59
- Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues”. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C.
- IBGE. (2004) "Indicadores de desenvolvimento sustentável", Brasil. On line em geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturai/indicadores_desenvolvimento_sustentavel/biodiversidade.pdf

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