quinta-feira, 5 de abril de 2012

 
Biodiversidade – Que Valor?


     Tal como referido no post anterior, o conceito de Biodiversidade não se esgota numa definição única, necessitando isso sim de uma abordagem holística e ponderada para lhe atribuir uma (ou mais…) definições e valor.
 davidsuzuki.org

      Atribuir um valor à biodiversidade parece inicialmente um tanto ou quanto petulante, mas apenas se nos esquecermos que muitas das ações humanas são frequentemente irreversíveis no que se refere à alteração da Biodiversidade. Mesmo quando não são irreversíveis, possuem por vezes tal extensão que invalidam a recuperação ou utilização do recurso de forma equilibrada pelo homem por muitos e longos anos, aproximando-se quase do conceito de “recurso não renovável”. O ser humano necessita de estar alerta para a forma como a Biodiversdade contribui para lhe fornecer alimento, cultura, saúde ou mesmo liberdade de escolha. Para a forma como a humanização dos ecossistemas que ocorre pelo menos nos últimos 200 anos tem vindo muitas vezes a piorar o nosso bem estar geral e a fazer sofrer quem por vezes menos se pode defender.
cbd.int

      Atribuir um valor à Biodiversidade de determinado local é no entanto um exercício delicado, não só pelas condicionantes de espaço e tempo de estudo desse local, mas também pela relativa ausência de dados rigorosos ao nível da taxonomia ou genética de determinados ecossistemas. Do Pré-Câmbrico ao atual Cenozóico, passando pela origem das plantas com flor, a maioria dos invertebrados e os primeiros vertebrados no Paleozóico e pela “idade do répteis”, no Mesozóico, muito aumentou o nosso conhecimento da Biodiversidade do planeta em que vivemos, no entanto, conforme referido por Mooney et al (2005), as mudanças graduais ou abruptas em determinado ecossistema e a multiplicidade de relações que estes encerram em si e entre si dificulta muito a tarefa de “avaliar”.

      O ou “os” ecossistemas de um pais, é sabido, representam uma enorme mais valia para o capital desse mesmo pais (Mooney et al, 2005), no entanto, quantos de nós conhecemos métricas económicas concretas que indiquem esse valor? Todos sabemos, por simples senso comum, que a Biodiversidade tem um importante valor intrínseco, alem de representar inúmeras hipóteses por explorar nas mais diversas áreas do conhecimento, no entanto o benefício de alguns indivíduos continua a ter um custo elevado para a sociedade no seu todo. Impõe-se uma abordagem com precaução a este nível, pois o custo de uma mudança irreversível pode ser demasiado elevado para suportar.
gifttonature.org

Atribuir um valor e valorizar a Biodiversidade implica que sejam tomadas decisões fundamentadas em estudos concretos e análises mais detalhadas de riscos e benefícios. A variabilidade genética, ecológica e funcional de determinadas espécies, o seu/os níveis tróficos em determinada teia alimentar, a abundância de determinado tipo de indivíduos num ecossistema, a sua variação no tempo e espaço, ou a sua distribuição global são fatores a ter em conta para avaliar uma espécie, população, comunidade ou ecossistema. Um valor ainda mais correto poderá, hipoteticamente, ser obtido se adicionarmos a capacidade de adaptabilidade genética de uma população (que nos dará a capacidade de resiliência a uma mudança ambiental, por ex.), as interações existentes entre espécies ou a quantidade e qualidade do serviço que determinado ecossistema presta ao ser humano, tendo em conta a sua localização e distribuição.

Concluindo, tal como Bryant (2005) refere na sua obra, inúmeros argumentos poderão ser postos em cima da mesa para consubstanciar a importância da conservação da Biodiversidade e a atribuição de um valor à mesma. Veja-se por exemplo a capacidade de fornecimento de alimento ou produtos naturais ao homem, a manutenção da variabilidade genética (e com isso capacidade de adaptação) ou a riqueza cultural de determinada área. Ou mesmo os sinais de alarme, opções futuras e modelos científicos de estudo que determinadas zonas poderão fornecer. Poderíamos encontrar uma métrica atribuindo um valor de 1 a 10 a determinado parâmetro, fazendo a média simples de todos os parâmetros contabilizados em determinada situação e atribuindo-lhe, por ex, um valor de urgência de preservação ou intervenção, seria no entanto redutor.

Bibliografia base:

-        Christie et al, Valuing the diversity of biodiversity, Socio Economic Research Services (2005), Aberystwyth, SY23 3AH UK;
-        Millennium Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis (2005).  World Resources Institute, Washington, DC;

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