Biodiversidade – Que Valor?
Tal como referido no post anterior, o conceito de
Biodiversidade não se esgota numa definição única, necessitando isso sim de uma
abordagem holística e ponderada para lhe atribuir uma (ou mais…) definições e
valor.
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Atribuir um
valor à biodiversidade parece inicialmente um tanto ou quanto petulante, mas
apenas se nos esquecermos que muitas das ações humanas são frequentemente
irreversíveis no que se refere à alteração da Biodiversidade. Mesmo quando não
são irreversíveis, possuem por vezes tal extensão que invalidam a recuperação
ou utilização do recurso de forma equilibrada pelo homem por muitos e longos
anos, aproximando-se quase do conceito de “recurso não renovável”. O ser humano
necessita de estar alerta para a forma como a Biodiversdade contribui para lhe
fornecer alimento, cultura, saúde ou mesmo liberdade de escolha. Para a forma
como a humanização dos ecossistemas que ocorre pelo menos nos últimos 200 anos
tem vindo muitas vezes a piorar o nosso bem estar geral e a fazer sofrer quem
por vezes menos se pode defender.
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Atribuir um valor à Biodiversidade de determinado local é no entanto
um exercício delicado, não só pelas condicionantes de espaço e tempo de estudo
desse local, mas também pela relativa ausência de dados rigorosos ao
nível da taxonomia ou genética de determinados ecossistemas. Do Pré-Câmbrico ao
atual Cenozóico, passando pela origem das plantas com flor, a maioria dos
invertebrados e os primeiros vertebrados no Paleozóico e pela “idade do
répteis”, no Mesozóico, muito aumentou o nosso conhecimento da Biodiversidade
do planeta em que vivemos, no entanto, conforme referido por Mooney et al
(2005), as mudanças graduais ou abruptas em determinado ecossistema e a
multiplicidade de relações que estes encerram em si e entre si dificulta muito a
tarefa de “avaliar”.
O ou “os” ecossistemas de um pais, é sabido, representam uma enorme
mais valia para o capital desse mesmo pais (Mooney et al, 2005), no entanto,
quantos de nós conhecemos métricas económicas concretas que indiquem esse
valor? Todos sabemos, por simples senso comum, que a Biodiversidade tem um
importante valor intrínseco, alem de representar inúmeras hipóteses por
explorar nas mais diversas áreas do conhecimento, no entanto o benefício de
alguns indivíduos continua a ter um custo elevado para a sociedade no seu todo.
Impõe-se uma abordagem com precaução a este nível, pois o custo de uma mudança
irreversível pode ser demasiado elevado para suportar.
gifttonature.org
Atribuir um valor e valorizar a Biodiversidade implica
que sejam tomadas decisões fundamentadas em estudos concretos e análises mais
detalhadas de riscos e benefícios. A variabilidade genética, ecológica e
funcional de determinadas espécies, o seu/os níveis tróficos em
determinada teia alimentar, a abundância de determinado tipo de indivíduos num
ecossistema, a sua variação no tempo e espaço, ou a sua distribuição global são
fatores a ter em conta para avaliar uma espécie, população, comunidade ou
ecossistema. Um valor ainda mais correto poderá, hipoteticamente, ser obtido se
adicionarmos a capacidade de adaptabilidade genética de uma população (que nos
dará a capacidade de resiliência a uma mudança ambiental, por ex.), as
interações existentes entre espécies ou a quantidade e qualidade do serviço que
determinado ecossistema presta ao ser humano, tendo em conta a sua localização
e distribuição.
Concluindo, tal como Bryant (2005) refere na sua obra,
inúmeros argumentos poderão ser postos em cima da mesa para consubstanciar a
importância da conservação da Biodiversidade e a atribuição de um valor à
mesma. Veja-se por exemplo a capacidade de fornecimento de alimento ou produtos
naturais ao homem, a manutenção da variabilidade genética (e com isso
capacidade de adaptação) ou a riqueza cultural de determinada área. Ou mesmo os
sinais de alarme, opções futuras e modelos científicos de estudo que
determinadas zonas poderão fornecer. Poderíamos encontrar uma métrica
atribuindo um valor de 1 a 10 a determinado parâmetro, fazendo a média simples
de todos os parâmetros contabilizados em determinada situação e atribuindo-lhe,
por ex, um valor de urgência de preservação ou intervenção, seria no entanto
redutor.
Bibliografia base:
-
Bryant,
P., "Biodiversity
and Conservation - a hypertext book", (2005), Cap. 7;
-
Christie
et al, Valuing the
diversity of biodiversity, Socio Economic Research Services (2005), Aberystwyth, SY23 3AH UK;
-
Millennium
Ecosystem Assessment, Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis
(2005). World Resources Institute,
Washington, DC;
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